quarta-feira, 14 de junho de 2023

 

Quem me dera...
 
No livro dos de teus olhos , até posso reler
As lembranças do amor que tivemos um dia
Aquela imagem refletida na retina faz verter
A cântaros as lágrimas ébrias de melancolia.
 
Saudade, esforço de quem vive uma quimera
Desespero daqueles que pelejam com bravura
Traz meu tempo perdido. Ah! quem me dera!
Cessar essa dor que há uma eternidade dura.
 
Mas no desespero de recuperar o que havia ido
Encontrei apenas a murcha flor do desalento
E a desilusão, essa que nunca muda de sentido.
 
Agora ninguém mais ouve que tenho de lamento
Eu ainda preso às grades enferrujadas do tormento
Alimento-me do tempo que esqueci de ter vivido.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Nostalgia

Crescida no jardim do meu coração
És tu, de longe,  a mais formosa flor
Minh’alma repleta de pura  emoção
Quando sinto o bálsamo do teu amor

Saudade, mãe da insônia, filha da agonia
Relembro flores que lhe ofereci outrora
Com uns versos banhados em nostalgia
Que visitam minh’alma de hora em hora.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

De repente


De repente
Acordei num dia de sol, de muita luz
O canto dos pássaros,  logo  ao amanhecer,
Enchiam meu peito de confiança, de alegria.
Ouvia o barulho das águas do riacho,
Sentia como desabrochavam as flores,
O sabor do néctar que as abelhas sorviam.
Todos sorriam, todos cantavam, todos voavam
Nós sonhávamos, planejávamos, tudo era futuro
Mas...
De repente,
Percebi que tudo não era realidade
Era bom demais para ser verdade
Uma máscara que forjavam a minha felicidade
Caiu de madura.
De repente,
Senti que começava a escurecer
Os pássaros cantantes se empoleiraram
As flores murcharam,
Os risos eram de deboche, o canto era um réquiem.
Tudo era marcha.
E o futuro, doce futuro, transformou-se
No gosto amargo da pura realidade.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

POESIA

Repousa no mar
A velha  e gigantesca nau afundada
Jaz na terra
O velho soldado da Pátria Amada
Ecoa no ar
O som dos suspiros de uma noite enluarada
Vive na Alma
A bela poesia de amor declamada.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Contumaz


CONTUMAZ




Certa vez me disseram que

O rosto não era meu

Que aquilo que eu ouvia era apenas ruído

Que meu paladar não sabia a nada

Que o que via com meus olhos

Era a miragem daltônica no meio do deserto.

Deserto estava meu coração

Os que eu amava fugiram numa revolução

E imaginei que meu amor era mera ilusão.

Cada vez que concordava com todos

Todos discordavam de mim.

O medo das palavras me perseguia

Quando as usava, quando as ouvia.

Diante do espelho, um estranho me observava

E dizia, com a eloquência do silêncio contumaz:

-Você não é você, meu rapaz!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Lira do encanto


Quando tu choras, eu me entristeço

Aperta o peito ao ouvir teu pranto

Tudo o que é belo perde o encanto

E nessa aflição eu me desconheço.

 
As lágrimas que vertem da tua face

Como uma nascente de água pura

Orvalham meus olhos de amargura

Que não camufla nem com disfarce.

 
Quando sorris, o sol brilha reluzente

Os jardins se tornam multicoloridos

Os pássaros chilreiam mais atrevidos

E a minh’alma desperta alegremente.

 
Dos teus lábios emana toda simpatia

De onde nasce a fonte que me inspira

Ao extrair do fundo do coração a lira

Que eu canto dia e noite, noite e dia.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Entre a Língua e a Gramática



Uma das maiores riquezas de nosso país é, sem dúvida, a diversidade cultural. De norte a sul desse imenso território, é possível perceber a grandeza das mais diversas formas de representação da cultura regional. Em meio a tudo isso, no entanto, cresceu um mito paradoxal: a ilusão de que o Brasil é um país de unidade lingüística.

Esse mito é o responsável pela ideia de que se todos falamos uma mesma língua, essa deve ser padrão para todos e se basear em uma única gramática. Esse purismo despreza as variantes lingüísticas, responsáveis pelas diversos falares, sotaques e dialetos regionais e sociais. Apesar de a base ser a língua portuguesa, há que reconhecer que ela se transforma em cada cultura e que isso é importante para a sua evolução.

No entanto, muitos não reconhecem essa diversidade. Recentemente, a grande mídia fez um alarde em torno do conteúdo de um livro adotado pelo Ministério da Educação para o ensino de língua portuguesa nas escolas. O livro, ao tratar do assunto da variante lingüística, mencionava algumas formas da linguagem no Brasil. O livro foi condenado por quem não conhece do assunto e por aqueles que não leram o livro e não gostaram.

Vale lembrar inicialmente que a língua portuguesa é um idioma que se deriva do língua latina, mas não do latim culto falado em Roma, mas do latim vulgar falado pela plebe e pelos soldados.  Logo, é uma variação de outra língua que já se apresentava com variações próprias. Assim, várias palavras e expressões sofreram constantes modificações e verbetes provenientes de distintos idiomas dos povos que ocuparam a península ibérica.

Por conta disso, é temerário considerar erro o desvio da norma culta, da língua padrão. O mais correto deveria considerá-los variantes lingüísticas. Como parte do acervo cultural, a língua de um povo é viva e em constante mutação, dependendo da geração, do lugar e das condições A contribuição da Linguística nesse sentido tem ajudado a dar um aporte científico a esse incipiente debate nos últimos anos.

O mais interessante é essa crítica à gramática tradicional não é novidade das duas últimas décadas. A defesa de um português genuinamente brasileira era uma das bandeiras do movimento Modernista. Daí resulta, a título de exemplo, a famosa e magnífica crítica de Oswald de Andrade ao formalismo lingüístico no poema Pronominais:

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

Logo, querer submeter essa diversidade lingüística ao rígido controle de uma gramática muitas vezes limitada ao falar do Rio de Janeiro do início do século XX é um equívoco que a sociedade ainda não percebeu.  E como disse Luís Fernando Veríssimo jocosamente : “A gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda”.