terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Lascívia

O doce aroma de sua fragância
Que a minha consciência ilude
Mistura meu  vício à sua virtude
Minha calma à sua inconstância

O gosto imoral de sua saliva
Sabe à fruta do doce pecado
Lábios vermelhos, corpo suado
evocam suspiros de pura lascívia

O sangue que ferve em ebulição
O corpo febril, o peito ofegante
A voz conivente de dois amantes
Que sussurram felizes em emoção

Como vulcão em pleno vapor
Aguarda o momento da erupção
O gozo dos corpos na escuridão
À noite revela segredos de amor

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Reificação

Quando vou a uma livraria fico imaginando quão rico é aquele universo. Ao ver as novidades que me interessam, logo sinto aquela sensação de impotência ante a ausência de tempo suficiente para dar conta da leitura de tudo aquilo. Seria extraordinário se tivéssemos tempo para ler tudo aquilo de que gostamos. Melhor: tempo para fazermos tudo que temos vontade.
No entanto, ontem, ao passar por uma dessas imensas livrarias, algo me chamou a atenção: um livro com o título “Mil lugares que você precisa conhecer antes de morrer.” A princípio, achei o título  e fiquei imaginando como deve ser fantástico conhecer todos esses lugares. Mas logo constatei que uma vida – por mais abastada e cheia de dinheiro – não é suficiente para conhecer esses mil lugares.
Por outro lado, o título é apenas sugestivo, pensei. São opções que você tem para conhecer durante a vida, não há necessidade de conhecer os mil lugares. É...mas o verbo “precisar” é impositivo nos faz imaginar que, para morrer feliz,  preciso conhecer exatamente os mil lugares.
Não andei muito e encontrei, na estante ao lado, outros livros com títulos idênticos: “Mil vinhos para tomar antes de morrer”; “Mil livros que você precisar ler antes de morrer”; “Mil filmes que você precisar assistir antes de morrer”.E por aí vai.
Toda essa profusão de títulos me fez concluir que, segundo essas cartilhas, para viver bem, é preciso quantidade e não qualidade. Ou seja,  os livros também viraram uma forma de pedágio para a cultura consumismo irracional.
Não é de hoje que a  sociedade pós-moderna nos incutiu a ideia de que você só tem utilidade se consumir: o consumo é a redenção de todos. Trata-se de um conceito individualizado, de costas para subjetividade e de olhos fechados para a coletividade.
No entanto, poucos se deram conta de que esse “fetichismo” pelo consumo irracional nos transformou em mercadorias, alienando-nos a cada dia que passa.É o que o sociólogo francês Georg Lucáks chamou de reificação.
Ao mesmo tempo, a quantidade de informações disponível a todos, por intermédio da facilidade de acesso à internet, tornou tudo instantâneo, pois, para termos acesso à mais informação, não vamos mais à banca de jornal; os shoppings se tornaram virtuais. O gesto de consumir está ao alcance de apenas alguns cliques no mouse ou toques na tela.
Ao analisar o fenômeno das redes sociais, o sociólogo polonês Zygmuth Bauman, em sua obra “Vida para o Consumo”, alerta para a constatação de que as relações sociais também passaram a ser mediadas pelo consumo.  Vale ressaltar que esse Consumo não é necessariamente das tradicionais formas de mercadorias, mas de cultura, de hábitos, de valores, de aparências e de ideologias.
Assim, na sociedade onde o padrão de consumo e da cultura de massa prevalece sobre as manifestações artísticas legítimas e as relações humanas, não há que se falar em subjetividade, pois ninguém pode se tornar sujeito antes de se tornar mercadoria. Todos devem se submeter ao padrão do mercado.
Nessa sociedade, percebo que o conceito de subjetividade dá lugar à ideia de individualismo.
E individualismo é o réquiem de uma sociedade sem criatividade.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Cantiga da Desilusão




Na vitrola, o vinil gira empenado
Conduzindo a agulha de diamante
Que arranha num tom desafinado
A cantiga de um amor tão dissonante.


O ruído rouco da rabeca apavora
O peito já desprovido de harmonia
Ecoando o sentimento que outrora
Rimava e ritmava em melodia.


Não posso eu cantar outro refrão
Se já não tenho nenhum repertório
que me torne um grande regente


para transformar esse amor ilusório
em uma ária de tom eloquente
sem medo e nem  desilusão.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Repouso


Repousa no mar
A velha  e gigantesca nau afundada
Jaz na terra
O velho soldado da Pátria Amada
Ecoa no ar
O som dos suspiros de uma noite enluarada
Vive na Alma
A bela poesia de amor declamada.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

E a mídia?

Havia um tempo em que nós, professores de redação, recomendávamos  aos alunos a leitura de jornais e revistas para ficarem bem informados, acreditando serem tais veículos um dos poucos meios de que a sociedade dispunha para sair do obscurantismo da falta de informação. Pelo menos, presumíamos isso, daí a defesa intransigente da liberdade de informação.
Entretanto, aqui ou alhures, essa é uma visão de outrora. Hoje, esses periódicos já não trazem esse sinônimo, devido à corrupção do conceito de liberdade de informação e ao caráter manipulador com que a maioria dos veículos de comunicação abordam os assuntos que interessam a todos.
E há explicação para isso: essas empresas, por décadas, amealharam recursos oficiais e empresariais de propagandas. Hoje, a função da informação está diluída não só nas empresas radiofônicas, televisivas ou jornais, mas na internet, principalmente dos blogs.E aqui, o espaço é mais democrático, devido à existência de centenas de pessoas cumprindo esse objetivo.
Decerto, a blogosfera é produto dos esforços de pessoas independentes das corporações de mídia, de pessoas que – por motivos humanistas, sociais, literários - ousaram produzir uma comunicação compartilhada, democrática e autônoma. E essa experiência tem atraído os olhares dos leitores. Não representa apenas uma nova forma de lidar com a comunicação, mas um novo modo de exercer a liberdade de imprensa. E veio para ficar.

Assim, não é difícil imaginar que a mídia tradicional caminha para a decrepitude e terminará seus dias abraçada  a uma visão estreita e corrupta do conceito por ela produzido de liberdade de expressão. E a sociedade – sempre vassala de suas afirmações – tenderá a reconhecer o novo espaço como a manifestação pela da liberdade de informação.

Soneto à Insônia

SONETO À INSÔNIA
(Osmar Aguiar)
A velar diante do sono de uma cidade
Solitário e a divagar me encontro eu
Esperando, de Hypnos, não  mera caridade
Para adormecer ante a clemência de Morfeu

Que os deuses do sono e dos sonhos
Me conduzam, com sabedoria e hipnotismo
Sem tormentas  e sem delírios medonhos
Aos braços de Erato - a bela musa do lirismo

De seus lábios viria a  fonte da quimera
Para sublimar no amor – base do sentimento
O eco que retumba além da atmosfera

Por ora, tenho as estrelas como parceria
Que, aos poucos, mínguam no firmamento
Preparando espaço para o sol do novo dia