quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Reflexões sobre a educação


É comum ouvirmos que a educação deve ser prioridade de uma nação em desenvolvimento.  Isso é dito por políticos, jornalistas,  apresentadores de rádio e TV, articulistas de jornais, blogueiros de plantão, além de diversos profissionais liberais. A sentença é praticamente uma verdade geral. De igual modo, quanto se fala dos problemas em educação, a preocupação unânime gira em torno da falta de recursos ou de prioridade no financiamento da educação por parte dos governantes. 

Tudo isso não deixa de ser relevante, mas o que me preocupa não é só isso. Quiçá, o principal dilema hoje em relação ao assunto, para mim, é a forma como é feita a educação nas salas de aula, o que me permite afirmar com todas as letras e com honrosas exceções, que o único ofício que insiste em não evoluir, nesses 500 e poucos anos de história, é a nossa forma de ministrar as  aulas. Ou seja, fazemos hoje que os jesuítas faziam quando chegaram ao Brasil no Séc. XVI.

E isso é de fácil constatação, a começar pela organização da sala de aula, em que as cadeiras dos alunos ficam enfileiradas  e o professor no centro de tudo, transmitindo o conteúdo aos alunos. Estes têm apenas a responsabilidade de entender a visão passada pelo professor e resolver exercícios e provas com base nisso, para, assim, obterem a aprovação.  Pouco espaço para o debate e para a construção e transformação do conhecimento. Se um aluno questiona o entendimento do professor, logo é considerado um sujeito que “quer aparecer”. Quer forma mais arcaica de compreender o ato de ensino-aprendizagem? 

Diversos são os teóricos, desde o Renascimento, que condenam essa forma de educação, herdada certamente do obscurantismo da Idade Média. Michel de Motaigne foi um desses questionadores.  Ele partia do pressuposto de que o conhecimento objetiva a formação de um homem ou mulher completos. O alvo de sua crítica era essa forma de ensinar meramente expositiva, centrada professor e na passagem do conteúdo a todo custo. Para ele, é preciso educar o juízo do aluno, em vez de encher-lhe a cabeça com palavras. Uma visão muito próxima do que os modernos educadores pregam para a o ensino.  Paulo Freire criticou a forma tradicional de educação, denominando-a educação bancária, preocupada em depositar o “conhecimento de quem sabe” no “vazio de quem não sabe”. 

Para isso, mais do que nunca, vejo que o objetivo do professor é abrir o caminho para a leitura do aluno acerca do objeto do conhecimento e não dizer-lhe a forma como deve  conhecer.  Vejo que a preocupação dos verdadeiros mestres é com a substância e não apenas se entendeu as palavras que usou naquela lição. Assim, os alunos deixam de ser objetos e passam a ser sujeitos do processo de ensino-aprendizagem,  o que gera cidadãos mais críticos e, por conseguinte, menos submissos.

Portanto, para a compreensão dos verdadeiros objetivos da educação, a metáfora da abelha me parece a figura mais oportuna para explica-los. O mel produzido pelas abelhas não é o resultado da mistura do néctar que elas sorvem de várias flores, mas de um processo de transformação no interior de seu organismo.  Se elas simplesmente misturassem os néctares, não teríamos mel.  Assim é o conhecimento: não basta pegar as várias informações e juntá-las, é preciso interpretá-las com base em nossa visão de mundo e no contexto. Educação é isso. O resto é mera transmissão de informações.